NO INSTITUTO PESTALOZZI E NA ESCOLA PAULISTA: uma álgebra intuitiva para o ensino primário? (1800-1920)

Autores

Palavras-chave:

Álgebra, Epistemologia do saber escolar, Método intuitivo, Pestalozzi, São Paulo

Resumo

Este texto buscou responder, ainda que parcialmente, uma necessidade da historicização da presença da álgebra na escola primária. Como ocorreu as tentativas de inserção da álgebra na instrução da criança da escola primária? Como ensiná-la? Para construir as respostas, num primeiro momento, fez-se uma imersão nas experiências pedagógicas de Pestalozzi. Há quem diga ter sido ele o primeiro a ousar inserir a álgebra no programa da escola primária. A análise de um amplo conjunto de documentos evidenciou que, no Instituto Pestalozzi, a álgebra foi reduzida aos seus elementos mais primitivos. Essa matéria era ensinada e aprendida acompanhando a mesma marcha da aritmética: intuição das unidades; cálculo mental; cálculo escrito; cálculo mental algébrico; cálculo literal ou álgebra propriamente dita. Descolados a priori das definições, regras, sinais, fórmulas e axiomas, os elementos da álgebra se imbricavam com os da aritmética tendo como ponto de partida do ensino a intuição sensível das relações de grandezas, tornando-as em matérias organicamente unidas. No final do século XIX, o método intuitivo de Pestalozzi foi uma das referências de modernização do ensino público de São Paulo. Como segundo momento desta investigação, a análise aqui particularizada mostrou que, entre os anos de 1870 e 1920, a escola pública paulista assistiu e sentiu as constantes turbulências vivenciadas pela álgebra ora enquanto saber a ensinar, ora enquanto artifício engenhoso para ensinar aritmética. Os efeitos dessas instabilidades puderam ser identificados pelas mudanças na finalidade da escola primária e pelas sucessivas reformas nos programas de ensino.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcus Aldenisson Oliveira, Université Laval

Doutor em Ciências pelo Programa de Educação e Saúde na Infância e na Adolescência/UNIFESP. Atualmente, é doutorando pela Université Laval no programa de didática. Tem experiência na área de História da Educação, com ênfase na História da Educação Matemática e nos temas: Didática da Matemática, Método de Ensino de Matemática; impressos pedagógicos.

Vera Teresa Valdemarin, UNESP/Campus Araraquara

Professora Associada do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara e do Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto de Biociências de Rio Claro, UNESP. É bolsista do CNPq na modalidade Produtividade em Pesquisa e tem experiência em ensino e pesquisa na área de História e Filosofia da Educação, com ênfase nos seguintes temas: cultura escolar, fundamentos filosóficos dos métodos de ensino e formação de professores.

Referências

A Eschola Publica. (1893). Editoral. São Paulo: Tipografia Hennies & Winniger, a. 1, n. 1, julho de 1893, p. 1.

A Eschola Publica. (1895). Ensaio de Pedagogia Prática. São Paulo: Tipografia Hennies & Winniger.

Aparecida Pinto, Adriana. (2008). Contribuições da imprensa periódica especializada para os estudos em história da educação: a revista A Eschola Publica e as disputas pela hegemonia do campo educacional paulista (1893 – 1897). Fronteiras, Dourados, v. 10, n. 18, jul./dez., p. 95-118.

Barbosa, Rui. (1947). Reforma do ensino primário e várias instituições complementares da instrução pública. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde. (Obras Completas, v. X, 1883).

Basei, Ana Maria. (2020). Processos e dinâmicas de institucionalização da álgebra na formação de professores dos primeiros anos escolares, São Paulo (1880-1911). Tese (Doutorado em Ciências). 194 f. Universidade Federal de São Paulo. Guarulhos, 2020. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/219667/Tese%20-%20Ana%20Maria%20Basei.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acessado em: 10/06/2021.

Brasil. (1851). Decreto n. 630, de 17 de setembro de 1851. Autoriza o Governo para reformar o ensino primário e secundário do munícipio da Corte. Rio de Janeiro.

Brasil. (1877). Decreto n. 6479, de 18 de janeiro de 1877. Manda executar e regulamento para as escolas públicas da instrução primária do munícipio da Corte. Rio de Janeiro.

Brasil. (1879). Decreto n. 7.247 de 19 de abril de 1879 do Ministério do Império. Reforma o ensino primário e secundário no município da Corte e o superior em todo o Império. Império do Brasil de 1879 – Parte II Tomo XLII. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, p. 196-217.

Brasil. (2017). Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP n. 2, de 22 de dezembro de 2017. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf . Acessado em: 10/06/2021.

Breves, Arthur. (1906). O ensino nos Grupos Escolares. Revista de Ensino, São Paulo, a. 4, n.4, p. 751-756.

Calkins, Norman Allison. (1862). Primary Object Lessons for a graduated course of development. 50ª ed., New York: Harper & Brothers.

Campos, Antonio Caetano. (1890). Justa homenagem: discurso proferido perante a turma de professorandos, em 17 de dezembro de 1890. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 5, 18 dez.

Cardoso, Tereza Fachada Levy. (1999). As Aulas Régias no Rio de Janeiro: do projeto à prática (1759 – 1834). Revista de História da Educação, Pelotas, v. 3, n. 6, jul./dez., p. 105-130.

Carvalho, Francisco Aurelio de Souza. (1874). Relatório sobre o estado da instrução pública da província de São Paulo no ano de 1873. Apresentado ao presidente da província ao sr. dr. João Theodoro Xavier pelo inspetor geral o bacharel Francisco Aurelio de Souza Carvalho. São Paulo: Tipografia Americana.

Davies, Charles. (1865). New Elementary Algebra: embracing the first principles of the science. New York: Barns & Burr, Publishers.

Delon, Charles. (1892). Méthode intuitive. Exercices et travaux pour les enfants selon la méthode et les procèdes de Pestalozzi e t de Froebel transformes et adaptés à l’usage des écoles françaises. Deuxième partie. Paris: Hachette.

Develay, Michel; ASTOLFI, Jean-Pierre. (2005 [1989]). La didactique des sciences. 6. ed. Paris: PUF,

Escobar, Carlos. (1892). A Mário de Arantes. O Estado de São Paulo, ano. XVIII, n. 5.269, 25 de outubro de 1892, p. 2.

Girard, Grégorie. (1810). Rapport sur l’Institut d’Yverdon.

Hippeau, Célestin. (1870). L’instruction publique aux États-Unis: écoles publiques, collèges, universités, écoles spéciales. Premier édition. Paris: Didier et Cie, 1870. Disponível em: <https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k220767r.image>. Acessado em: 27/03/2022.

Jullien, Marc Antoine. (1812a). Esprit de la méthode d’éducation de Pestalozzi, suivie et prátiquée dans l’institut d’éducation d’Yverdun, em Suisse. (Tome 1). Milão: Imprimerie Royale, 1812a.

Jullien, Marc Antoine. (1812b). Esprit de la méthode d’éducation de Pestalozzi, suivie et prátiquée dans l’institut d’éducation d’Yverdun, em Suisse. (Tome 2). Milão: Imprimerie Royale, 1812b.

Livingstone, David Noel. (2003). Putting Science in its place: geographies of scientific knowledge. Chicago: The University of Chicago Press.

Mayo, Elizabeth. (1859). Lessons on objects: As given to children between the ages of six and eight in a Pestalozzian School at Cheam Surrey, 16 ª ed., London: Seeley, Jackson, and Halliday.

Mérian, Abel; Girard, Grégorie; Trechsel, Frédéric. (1810). Rapport sur l’Institut de Mr. Pestalozzi à Yverdon. Fribourg: chez Béat-Louis Piller, imprimeur contanal.

Nacarato, Adair Mendes; Custódio, Iris Aparecida. (orgs.). (2018). O desenvolvimento do pensamento algébrico na Educação Básica: compartilhando propostas de sala de aula como o professor que ensina (ensinará) matemática. Brasília: Sociedade Brasileira de Educação Matemática.

Oliveira, Marcus Aldenisson. (2017). Pedagogia intuitiva da escola elementar de Pestalozzi: como se ensinava Aritmética? Bolema, Rio Claro (SP), v. 31, n. 59, dez., p. 1005-1031.

Pestalozzi, Johann Heinrich. (1985 [1801]). Comment Gertrude instruits ses enfants. Tradução: Michel Soëtard. Albeuve/Suisse: Éditions Castella,

Pestalozzi, Johann Heinrich. (2008 [1801]). Sur la nature, le but et l’usage des livres élémentaires. In: Pestalozzi, J. H. Écrits sur la Méthode: tête, coeur, main. (Volume I). Lausanne: NK Éditions, le Mont-sur-Lausanne, p. 45-62.

Pestalozzi, Johann Heinrich. (2008 [1808]) Compte rendu aux parents et au public sur l’etat présente et l’organisation de l’Institut Pestalozzi à Yverdon: suivi de l’annexe concernant l’Institut des jeunes filles. In: Pestalozzi, J. H. Écrits sur la Méthode: tête, coeur, main. (Volume I). Lausanne: NK Éditions, le Mont-sur-Lausanne, p. 135-170.

Pestalozzi, Johann Heinrich. (2009 [1812]) La méthode. In Pestalozzi, J. H. Écrits sur la Méthode: tête, coeur, main. (Volume II). Lausanne: NK Éditions, le Mont-sur-Lausanne, p. 98-105.

Pestalozzi, Johann Heinrich. (1826). Méthode théorique et pratique de Pestalozzi pour l’éducation et l’instruction élémentaires (publiée en français par lui-même). 1. ed. Paris: Lassime et Cia.

Prestes, Gabriel. (1895). Relatório apresentado ao Sr. Dr. Cesário Motta Junior (Secretário dos Negócios do Interior) por Gabriel Prestes (Diretor da Escola Normal). São Paulo: Tipografia do Diário Oficial.

Puiggari, Ramon. (1896). Pestalozzi. A Eschola Publica. São Paulo, ano. 1, n. 2, jun. 1896, p. 76-77.

Rodrigues, João Lourenço. (1930). Um Retrospecto: alguns subsídios para a história pragmática do Ensino Público em São Paulo. São Paulo: Instituto D. Anna Rosa.

SÃO PAULO. (2008). Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Matemática. São Paulo: SEE, 2008. Disponível em: http://www.rizomas.net/images/stories/artigos/Prop_MAT_COMP_red_md_20_03.pdf . Acessado em: 10/06/2021.

São Paulo. (1887). Lei n. 81 de 06 de abril de 1887. Reforma da Instrução Pública da província de São Paulo.

São Paulo. (1890). Decreto n. 27 de 12 de março de 1890. Reforma da Escola Normal e converte em Escolas Modelos as Escolas anexas.

São Paulo. (1892). Lei n. 88 de 08 de setembro de 1892. Reforma da Instrução Pública do Estado.

São Paulo. (1894). Decreto n. 248, de 26 de julho de 1894. Aprova o regimento interno das escolas públicas.

São Paulo. (1905). Decreto n. 1281, de 24 de abril de 1905. Aprova e manda observar o programa de ensino para a escola modelo e para os grupos escolares.

São Paulo. (1918). Decreto n. 2944, de 08 de agosto de 1918. Aprova o regulamento para a execução da Lei n. 1579, de 19.12.1917, que estabelece diversas disposições sobre a instrução pública do Estado.

São Paulo. (1921). Decreto n.º 3356, de 31 de maio de 1921. Regulamenta a Lei n. 1750, de 8 de dezembro de 1920, que reforma a instrução pública.

São Paulo. (1925). Programa de ensino do curso primário para os Grupos Escolas e Escolas Isoladas do estado de São Paulo.

São Paulo. (1926). Decreto n. 4.101, de 14 de setembro de 1926. Regulamenta a Lei n. 2.095, de 24 de dezembro de 1925, que reforma a instrução pública do estado.

Schmid, Johann Joseph. (1848). Introduction des Mathématiques dans l’instruction populaire. Paris: imprimerie Lacrampe fils et compagnie.

Schneuwly, Bernard. (2014). Didactique: construction d’un champ disciplinaire. Éducation & didactique, v. 8, n. 1, p. 13-22.

Sheldon, Edward Austin. (1862). A manual of elementary instruction, for the use of public and private schools and normal classes; containing a graduated course of object lessons for training the senses and developing the faculties of children. New York: Charles Scribner.

Souza, Rosa Fátima. (2004). Templos da civilização: a implantação da escola primária graduada no estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo: Editora Unesp.

Trajano, Antonio Bandeira. (1888 [1905]). Álgebra elementar. 5. ed. Rio de Janeiro: Companhia Tipográfica do Brasil.

Valdemarin, Vera Teresa. (2000). Liberalismo Demiurgo: estudo sobre a reforma educacional projetada nos Pareceres de Rui Barbosa. São Paulo: Cultura Acadêmica.

Valdemarin, Vera Teresa. (2004). Estudando as lições de coisas: análise dos fundamentos filosóficos do método de ensino intuitivo. Campinas: Autores Associados.

Valdemarin, Vera Teresa. (2010). História dos métodos e materiais de ensino: a escola nova e seus modos de uso. São Paulo: Editora Cortez.

Valdemarin, Vera Teresa. (2018). Caminhos da mudança: entre o método de ensino intuitivo e a renovação pedagógica (São Paulo, 1925-1927). In: Castro, Cesar Augusto; Castellanos, Samuel Luis Velázquez (Org.). História da escola: métodos, disciplinas, currículos e espaços de leitura. São Luís/MA: EDUFMA, p. 147-174.

Downloads

Publicado

2022-11-17

Métricas


Visualizações do artigo: 183     PDF downloads: 127

Como Citar

Oliveira, M. A., & Valdemarin, V. T. (2022). NO INSTITUTO PESTALOZZI E NA ESCOLA PAULISTA: uma álgebra intuitiva para o ensino primário? (1800-1920). Revista De História Da Educação Matemática, 8, 1–28. Recuperado de https://www.histemat.com.br/index.php/HISTEMAT/article/view/526

Edição

Seção

Dossiê - A Mat. do Ensino e da Formação Primária em Tempos da Pedagogia Intuitiv